21 setembro, 2011

PIXAÇÃO HUMANA


Vendo os arquivos do blog tendo em mente os novos projetos, percebi que uma parte - muito importante por sinal - do trabalho ficou de fora das postagens. Então antes de atualizar com coisas novas, tenho a obrigação moral de concluir o que comecei por aqui.

Pra quem tá chegando agora, vale dar uma olhada na APRESENTAÇÃO pra entender do que se trata o blog (e se ficar interessado, cola na INTRODUÇÃO.


Já falei dos trabalhos de TATUAGEM URBANA que fiz, (como o SELO INMETRO DE PROSTITUTA LIMPINHA e o SACI CRK) e ficou faltando falar das PIXAÇÕES HUMANAS, relação quase que inversamente proporcional, onde a referência visual do contexto urbano sai do muro e invade a pele.

Como já disse em outra postagem, “O suporte deste trabalho é o corpo, primeiramente aquele feito de carne, sangue e pele, sagrado ou profano, o corpo humano. O primeiro e o ultimo traje de uma pessoa, com o qual se entra e se parte da existência mundana. Tido como o primeiro suporte da comunicação e o mais próximo das relações sociais (...)O limite físico do ser individual no mundo que o cerca, sua referência pessoal, é a superfície que divide o Eu dos outros.” E a forma de gravar nesse suporte é a TATUAGEM.

Tanto no PIXO como no GRAFFITI, é clara a influência territorialista. Numa ligação direta com o local de origem - espaço físico e palco para as cenas urbanas - o grafite e o pixo surgem fortalecendo e expandindo este vínculo. 

No graffiti nova-iorquino dos anos 70, as assinaturas espalhadas pela cidade e pelos trens mostravam o apelido e o número da rua em que o grafiteiro morava. Dessa forma, ao mesmo tempo em que estes sinais demarcam territórios, também imprimem na cidade rastros do vai-e-vem cotidiano, do fluxo de pessoas pelo espaço urbano coletivo.



                                                      TAKI 183

Ao deslocar-se para o corpo, essas marcas bairristas ultrapassam um limite territorial. Nesta inversão, “o espaço parece ter se esfarelado, trocando sua fixidez e imobilidade por um espaço em fluxo, que coloca na conexão, na mobilidade, nas relações e no sujeito em trânsito seu eixo fundamental”¹*. Conectando pessoas aos seus habitats e transpondo fronteiras geográficas, as PIXAÇÕES HUMANAS incorporam uma visão mais fluida do território.

Tatuei pessoas que desejavam manter-se ligadas ao seu ponto de partida, carregando no seu corpo um indício visual da influência deste local em suas vidas. Com traços e tipografias vindas das ruas, essas gravações atropelam a anatomia e se instalam definitivamente naquela superfície. O território ganha o mundo à medida que este corpo se desloca.

35: DF, com letras inspiradas no estilo THROW UP.


36: Rua 12, gravada na perna de um grafiteiro do Núcleo Bandeirante.


 37: Os Dois Candangos segurando rolinhos, e o pixo ‘DF GANG’,  feitos em um tatuador brasiliense pouco antes de ele ir morar nos Estados Unidos.

38: SOUL do SUL, rabisco na mão de um fotógrafo do Rio Grande do Sul.

1* Trecho do texto de Priscila ARANTES, Espaço Urbano, investigação artística e a construção de novas territorialidades. Retirado do livro Espaço e Performance. De organização de Maria Beatriz de Medeiros e Mariana F.M. Monteiro. 

21 maio, 2011

TATUAGEM DE CADEIA - Whorkshop III - São Paulo


De pois de ter realizado o workshop em Curitiba em dezembro, e na Univerdidade de Brasília em abril, o workshop chega agora a cidade de SÃO PAULO.

O evento tá sendo promovido pelo ZERO SEN tattoo studio e contará com 3 turmas para ter facilidade de horário e possibilitando que mais interessados possam participar.

As turmas serão: Quarta (25/05) às 18 hr.; Quinta (26/05) às 19hr. e Sábado (28/05) às 15hr.

O Workshop é basicamente uma apresentação teórico-prática sobre histórias, significados e técnicas desenvolvidas nas tatuagens carcerárias, e que foram/estão sendo pesquisadas por mim ao longo de 2 anos.

O curso é dividido em duas partes e organizado da seguinte maneira:

1ª parte: Teórica.

1- O que é tatuagem de cadeia.

2- Registros no Brasil: Carandiru. (+mais)

3- Gangues Latinas: excessos e identidade. (+mais)

4- Máfia Russa: símbolos e hierarquia. (+mais)


2ª parte: Prática.

5- Materiais disponíveis.

6- Gravação.

7- Confecção da máquina. (+mais)


O curso ainda disponibisará aos participantes apostila, certificado e os materiais para confecção da máquina caseira.


Workshop de Curitiba, no Barba Negra Hamburgueria.





Oficina na UnB.


Para matriculas e informações:

011 3151 2194
011 7515 3446
061 91390047

sktaiom@gmail.com


12 maio, 2011

DIPLOMAÇÃO: estilhaços, fragmentos e proposta final.


Comecei o blog com a ideia de “acompanhar o desenvolvimento da minha pesquisa acadêmica (UnB), e também, divulgar assuntos relacionados aos temas tratados nos meus estudos. Uma formar de compartilhar as informações encontradas com o público interessado, dando abertura para um dialogo mais dinâmico com os leitores. O trabalho (minha futura monografia) trata das conexões entre tatuagens e pichações, simbologias e conceitos destas visualidades ligadas à marginalidade e seus desdobramentos, seja no corpo humano ou no corpo urbano. A tatuagem da cidade e a pichação do corpo são os pontos iniciais da pesquisa poética onde se baseia a minha produção artística, que apresenta estudos nas áreas da Gravura, da Composição Urbana e da Body Art.” Como dizia no post de apresentação...

Em Janeiro deste ano conclui essa etapa do trabalho, terminei o texto, participei da exposição dos formandos, defendi minha monografia na banca, e fui aprovado!


Agora volto a dividir com vocês fragmentos do que se tornou essa minha vivência entre pichações humanas tatuagens urbanas, começando por um pequeno pedaço do texto ESTILHAÇOS (que aparece no segundo capitulo da monografia) :

Do mesmo modo que o deslocamento de uma composição urbana destrói seu fator fundamental de compor junto com a cidade, ou ainda como o ato de arrancar uma pele tatuada neutraliza toda sua importância social, escrever este texto sem atravessá-lo com imagens, seria como o manter algemado. E pior, transformaria a escrita em grades e correntes que manteriam a obra “aprisionada por códigos”, deixando-a “esmiuçada em elementos precisos que possam se tornar significados”*.

Não pretendo, e muito me assusta, a ideia de fazer do texto uma arma contra a própria obra. Jamais pretenderia apresentar minha composição visual através de um tradicionalismo linguístico, que visa torná-la “palavra, significado específico, um manual de utilização”*. Obra e texto são filhos da mesma pesquisa, e compartilham características e personalidade.


Assim apresento o conceito de TEXTO-OBRA, onde a parte conceitual, está intimamente relacionada com a composição visual da obra, seja artística ou literária. E continuando nessa linha interdependente, conectando o trabalho teórico e prático, apresento a proposta final...

A CASA
“Se a igreja é a casa de Deus, a cadeia é a casa do ladrão. É com esse sentido que as catedrais são gravadas nos corpos de criminosos russos, como forma de respeito e apreço pelo lugar-base de sua facção. Estes templos demostram a passagem do bandido pela casa de detenção, escola da máfia, e as torres desenhadas nestas catedrais representam o número de condenações que o portador da tatuagem cumpriu no cárcere.

Deslocado este signo para a minha experiência acadêmica, passaria então a representar a UnB, mesclando aspectos e vivências dos meus sete anos de curso – justamente o número de torres que desenhei para a obra. As paredes da igreja serão construídas com base no conhecimento transmitido pelos professores, feita com recortes de textos, provas, apostilas e todos os documentos acumulados por mim durante minha passagem pela universidade. Ato que valoriza o aprendizado que tive na instituição, colocando-o como parte da obra de arte, ao mesmo tempo que me desapega da papelada que guardei por tanto tempo. O trabalho será então colado, como um cartaz de rua, na parede do Instituto de Artes, na época da exposição dos formandos deste semestre.

Mas não será apenas o corpo coletivo que carregará esta marca. Minha presença na universidade ficará exposta em seu muro, da mesma maneira que a influência da academia na minha vida ficará visível em meu corpo.”









Com trabalhos espalhados pelas ruas, em muros ou em corpos, surge uma questão: Como apresentar meu trabalho numa galeria? Como transportar esse trabalho para um ambiente estéreo de exposições de arte?

Para responder esta questão utilizo a fala do CRIPTA: “De forma documental, de uma forma que a rua estaria ali, mas sem estar ali. Estaria ali na forma de um registro”, quanto perguntei a ele como foi a passagem da pixação para o espaço institucionalizado da Bienal de São Paulo (a convite) sem que se perdesse justamente a essência transgressora da ação.

Com este mesmo pensamento, levarei para o Espaço Piloto (galeria na UnB) apenas fragmentos, resquícios poéticos de todo o processo de pesquisa acadêmica e criação artística, que resultaram no conjunto de obras aqui apresentados, sem que este perca sua principal característica.



24 janeiro, 2011

Belém do Pará

Depois de ir para Curitiba, onde rolou o Workshop de Tattoo de Cadeia, rolou outra oportunidade bem interessante, e que acrescentou bastante nos meus estudos. Fui pra Belém falar da minha pesquisa (tema da minha monografia e deste blog) no Grupo de Pesquisa em Arte: DG – Guerrilhas Estéticas, que é coordenado pelo Profº Dr. Luizan Pinheiro.

Luizan é professor do mestrado do Instituto de Ciência da Arte da UFPA, e já escreve e estuda sobre pixação a mais de 10 anos. [ autor de alguns textos que tive como referência para meus estudos ] Me convidou para inaugurar os eventos de intercâmbio cultural do grupo de pesquisa em 2011, através de Priscila Porto, minha prima, orientanda dele na turma do mestrado, e cujo trabalho também fala da cidade e seus fluxos.

A proposta de abrir um debate sobre PESQUISA EM ARTE e OBJETO CONTEMPORÂNEO, onde eu apresentaria meu trabalho e a metodologia q fui traçando para esses estudos, aconteceu no dia 14 de janeiro, no prédio do I.C.A, que fica na Praça da Republica.





A experiência foi bem dahora! teve a presença de alunos da graduação, do mestrado, pichadores, tatuadores, e demais interessados no assunto, e como não poderia deixar de ser, depois da palestra virou um rolê de stencil.

Junto com meus parcero MANGUE e DIME, fui espalhando o Certificado INMETRO de Prostituta Limpinha, pelas ruas de Belém, num área conhecida como “Zona do Meretrício”, justamente por ser ponto comum de prostitutas e bordeis. E com a ajuda do Paulo Cezar e Luciana Magno (mestrandos da UFPA) fiz registros da ação.








fotos: 1 e 4 Luciana Magno; 2 e 3 Taiom; 5 Paulo Cezar



Confere aí um pouco da fala de Luizan sobre a pixação:



e segue tbm um link de uma pequena reportagem que rolou sobre essa experiência na capital do Pará.




04 janeiro, 2011

WorkShop de TATUAGEM DE CADEIA - Máquina de Tatuagem Caseira

O Workshop sobre TATUAGEM DE CADEIA, que rolou lá em Curitiba foi bem dahora! Foram mais de 20 inscritos que receberam uma introdução nesse universo marginal, que começou com uma mostra dos 3 grupos que selecionei para estudar, e que já foram apresentados aqui no blog. ( CARANDIRU, MARAS, VORY )

Falamos também sobre símbolos e significados, e como que vão se formando ou se transformando através do tempo. Assim como a linguagem, que está em constante transformação e muda também conforme o contexto, os códigos de organizações criminais também se adaptam a novos interesses e situações.

Assim como um mesmo símbolo, a referência visual, pode ter diferentes leituras de acordo com o grupo que interpreta, ou com a época em que foi escrito, ou lido, um mesmo significado pode ter diferentes formas, diferentes ícones, que também variam de acordo com o tempo e o espaço. Estes aspectos tornam a “leitura” dos códigos criminais um tanto subjetiva...

Outro ponto forte do workshop foi a construção de uma máquina de tatuagem com materiais comuns. Não vou ensinar aqui como montar uma maquina detalhadamente, mas deixo com vocês as ilustrações que acompanham a apostila que foi dada no workshop. Não tem muito segredo, acho que dá pra captar o essencial.

Alguns materiais que podem ser usados na confecção de uma máquina de tatuar.

- lapiseira 0,7 ou de numeração maior.

- colher ou garfo velho.

- fita isolante.

- agulha de costura.

- fio-dental.

- tinta nankin.

- isqueiro.

- tesoura e estilete.

- carregador de celular (que não tenha mais uso).

- motor de rotação (pode ser encontrado em carrinhos de controle remoto, vídeos-cassete, toca-fitas, escova de dente elétrica, micro ventilador, maquina de barbear, etc...).