03 julho, 2012

EXPERIMENTO#001


EXPERIMENTO#001 from Frederico Fernandes Neto on Vimeo.





Ação ou efeito de experimentar; conhecimento adquirido pela prática da observação ou exercício: ter experiência.


#001: Marcelo Seabra.

- música; improvisação; distorção;


Projeto artístico: TAIOM

Imagens e edição: Fred Fernandes

Trilha sonora: Eric Magnus – Saidiretro

20 maio, 2012

WORKSHOP TATUAGEM DE CADEIA IV - Curitiba

Mais um, e dessa fez a convite da organização da Semana Acadêmica de Design da UTFPR (ALGURES7). Quem tiver afim de participar, se liga na programação e na ficha de inscrição.

O Workshop é basicamente uma apresentação teórico-prática sobre histórias, significados e técnicas desenvolvidas nas tatuagens carcerárias, e que foram/estão sendo pesquisadas por mim ao longo de 2 anos.

O curso é dividido em duas partes e organizado da seguinte maneira:

1ª parte: Teórica.
1- O que é tatuagem de cadeia.
2- Registros no Brasil: Carandiru. (+mais)
3- Gangues Latinas: excessos e identidade. (+mais)
4- Máfia Russa: símbolos e hierarquia. (+mais)

2ª parte: Prática.
5- Materiais disponíveis.
6- Gravação.
7- Confecção da máquina. (+mais)


workshops anteriores

16 fevereiro, 2012

PIXAÇÃO HUMANA - parte II

Continuando a ideia da última postagem - pixação humana, segue mais um trabalho na mesma proposta, mas  pensado de uma outra forma.


PIXO visto como o rastro da movimentação social no espaço urbano, migrou para o corpo numa relação reversa onde é o espaço que se faz presente no corpo do indivíduo, como visto nos trabalhos anteriores.



Desta vez, a PIXAÇÃO HUMANA retoma parte do seu sentido original de assinatura, onde o indivíduo  deixa a marca visível de sua interação com o espaço, escrevendo seu codinome pelos quatro cantos ou nos picos mais altos da cidade. 



Neste caso, é a assinatura do tatuador que invade a cena, apropriando-se da superfície alheia e interagindo com o contexto imagético presente no corpo de outra pessoa. Agindo da mesma forma marginal e "incorreta" que um pixador aborda um muro com sua lata de spray ou seu rolo de tinta.



Na superfície humana, a forma transgressora de marcá-la começa com a ferramenta. Artesanal, improvisada e de certo modo inadequada. Aos moldes das tatuagens carcerárias (vide DE CADEIA), a máquina caseira confere aspecto grotesco e incerto ao traço. 



A seguir, o vídeo da performance de PIXAÇÃO HUMANA, e na sequência, fotos do trabalho completo.















21 setembro, 2011

PIXAÇÃO HUMANA


Vendo os arquivos do blog tendo em mente os novos projetos, percebi que uma parte - muito importante por sinal - do trabalho ficou de fora das postagens. Então antes de atualizar com coisas novas, tenho a obrigação moral de concluir o que comecei por aqui.

Pra quem tá chegando agora, vale dar uma olhada na APRESENTAÇÃO pra entender do que se trata o blog (e se ficar interessado, cola na INTRODUÇÃO.


Já falei dos trabalhos de TATUAGEM URBANA que fiz, (como o SELO INMETRO DE PROSTITUTA LIMPINHA e o SACI CRK) e ficou faltando falar das PIXAÇÕES HUMANAS, relação quase que inversamente proporcional, onde a referência visual do contexto urbano sai do muro e invade a pele.

Como já disse em outra postagem, “O suporte deste trabalho é o corpo, primeiramente aquele feito de carne, sangue e pele, sagrado ou profano, o corpo humano. O primeiro e o ultimo traje de uma pessoa, com o qual se entra e se parte da existência mundana. Tido como o primeiro suporte da comunicação e o mais próximo das relações sociais (...)O limite físico do ser individual no mundo que o cerca, sua referência pessoal, é a superfície que divide o Eu dos outros.” E a forma de gravar nesse suporte é a TATUAGEM.

Tanto no PIXO como no GRAFFITI, é clara a influência territorialista. Numa ligação direta com o local de origem - espaço físico e palco para as cenas urbanas - o grafite e o pixo surgem fortalecendo e expandindo este vínculo. 

No graffiti nova-iorquino dos anos 70, as assinaturas espalhadas pela cidade e pelos trens mostravam o apelido e o número da rua em que o grafiteiro morava. Dessa forma, ao mesmo tempo em que estes sinais demarcam territórios, também imprimem na cidade rastros do vai-e-vem cotidiano, do fluxo de pessoas pelo espaço urbano coletivo.



                                                      TAKI 183

Ao deslocar-se para o corpo, essas marcas bairristas ultrapassam um limite territorial. Nesta inversão, “o espaço parece ter se esfarelado, trocando sua fixidez e imobilidade por um espaço em fluxo, que coloca na conexão, na mobilidade, nas relações e no sujeito em trânsito seu eixo fundamental”¹*. Conectando pessoas aos seus habitats e transpondo fronteiras geográficas, as PIXAÇÕES HUMANAS incorporam uma visão mais fluida do território.

Tatuei pessoas que desejavam manter-se ligadas ao seu ponto de partida, carregando no seu corpo um indício visual da influência deste local em suas vidas. Com traços e tipografias vindas das ruas, essas gravações atropelam a anatomia e se instalam definitivamente naquela superfície. O território ganha o mundo à medida que este corpo se desloca.

35: DF, com letras inspiradas no estilo THROW UP.


36: Rua 12, gravada na perna de um grafiteiro do Núcleo Bandeirante.


 37: Os Dois Candangos segurando rolinhos, e o pixo ‘DF GANG’,  feitos em um tatuador brasiliense pouco antes de ele ir morar nos Estados Unidos.

38: SOUL do SUL, rabisco na mão de um fotógrafo do Rio Grande do Sul.

1* Trecho do texto de Priscila ARANTES, Espaço Urbano, investigação artística e a construção de novas territorialidades. Retirado do livro Espaço e Performance. De organização de Maria Beatriz de Medeiros e Mariana F.M. Monteiro. 

21 maio, 2011

TATUAGEM DE CADEIA - Whorkshop III - São Paulo


De pois de ter realizado o workshop em Curitiba em dezembro, e na Univerdidade de Brasília em abril, o workshop chega agora a cidade de SÃO PAULO.

O evento tá sendo promovido pelo ZERO SEN tattoo studio e contará com 3 turmas para ter facilidade de horário e possibilitando que mais interessados possam participar.

As turmas serão: Quarta (25/05) às 18 hr.; Quinta (26/05) às 19hr. e Sábado (28/05) às 15hr.

O Workshop é basicamente uma apresentação teórico-prática sobre histórias, significados e técnicas desenvolvidas nas tatuagens carcerárias, e que foram/estão sendo pesquisadas por mim ao longo de 2 anos.

O curso é dividido em duas partes e organizado da seguinte maneira:

1ª parte: Teórica.

1- O que é tatuagem de cadeia.

2- Registros no Brasil: Carandiru. (+mais)

3- Gangues Latinas: excessos e identidade. (+mais)

4- Máfia Russa: símbolos e hierarquia. (+mais)


2ª parte: Prática.

5- Materiais disponíveis.

6- Gravação.

7- Confecção da máquina. (+mais)


O curso ainda disponibisará aos participantes apostila, certificado e os materiais para confecção da máquina caseira.


Workshop de Curitiba, no Barba Negra Hamburgueria.





Oficina na UnB.


Para matriculas e informações:

011 3151 2194
011 7515 3446
061 91390047

sktaiom@gmail.com


12 maio, 2011

DIPLOMAÇÃO: estilhaços, fragmentos e proposta final.


Comecei o blog com a ideia de “acompanhar o desenvolvimento da minha pesquisa acadêmica (UnB), e também, divulgar assuntos relacionados aos temas tratados nos meus estudos. Uma formar de compartilhar as informações encontradas com o público interessado, dando abertura para um dialogo mais dinâmico com os leitores. O trabalho (minha futura monografia) trata das conexões entre tatuagens e pichações, simbologias e conceitos destas visualidades ligadas à marginalidade e seus desdobramentos, seja no corpo humano ou no corpo urbano. A tatuagem da cidade e a pichação do corpo são os pontos iniciais da pesquisa poética onde se baseia a minha produção artística, que apresenta estudos nas áreas da Gravura, da Composição Urbana e da Body Art.” Como dizia no post de apresentação...

Em Janeiro deste ano conclui essa etapa do trabalho, terminei o texto, participei da exposição dos formandos, defendi minha monografia na banca, e fui aprovado!


Agora volto a dividir com vocês fragmentos do que se tornou essa minha vivência entre pichações humanas tatuagens urbanas, começando por um pequeno pedaço do texto ESTILHAÇOS (que aparece no segundo capitulo da monografia) :

Do mesmo modo que o deslocamento de uma composição urbana destrói seu fator fundamental de compor junto com a cidade, ou ainda como o ato de arrancar uma pele tatuada neutraliza toda sua importância social, escrever este texto sem atravessá-lo com imagens, seria como o manter algemado. E pior, transformaria a escrita em grades e correntes que manteriam a obra “aprisionada por códigos”, deixando-a “esmiuçada em elementos precisos que possam se tornar significados”*.

Não pretendo, e muito me assusta, a ideia de fazer do texto uma arma contra a própria obra. Jamais pretenderia apresentar minha composição visual através de um tradicionalismo linguístico, que visa torná-la “palavra, significado específico, um manual de utilização”*. Obra e texto são filhos da mesma pesquisa, e compartilham características e personalidade.


Assim apresento o conceito de TEXTO-OBRA, onde a parte conceitual, está intimamente relacionada com a composição visual da obra, seja artística ou literária. E continuando nessa linha interdependente, conectando o trabalho teórico e prático, apresento a proposta final...

A CASA
“Se a igreja é a casa de Deus, a cadeia é a casa do ladrão. É com esse sentido que as catedrais são gravadas nos corpos de criminosos russos, como forma de respeito e apreço pelo lugar-base de sua facção. Estes templos demostram a passagem do bandido pela casa de detenção, escola da máfia, e as torres desenhadas nestas catedrais representam o número de condenações que o portador da tatuagem cumpriu no cárcere.

Deslocado este signo para a minha experiência acadêmica, passaria então a representar a UnB, mesclando aspectos e vivências dos meus sete anos de curso – justamente o número de torres que desenhei para a obra. As paredes da igreja serão construídas com base no conhecimento transmitido pelos professores, feita com recortes de textos, provas, apostilas e todos os documentos acumulados por mim durante minha passagem pela universidade. Ato que valoriza o aprendizado que tive na instituição, colocando-o como parte da obra de arte, ao mesmo tempo que me desapega da papelada que guardei por tanto tempo. O trabalho será então colado, como um cartaz de rua, na parede do Instituto de Artes, na época da exposição dos formandos deste semestre.

Mas não será apenas o corpo coletivo que carregará esta marca. Minha presença na universidade ficará exposta em seu muro, da mesma maneira que a influência da academia na minha vida ficará visível em meu corpo.”









Com trabalhos espalhados pelas ruas, em muros ou em corpos, surge uma questão: Como apresentar meu trabalho numa galeria? Como transportar esse trabalho para um ambiente estéreo de exposições de arte?

Para responder esta questão utilizo a fala do CRIPTA: “De forma documental, de uma forma que a rua estaria ali, mas sem estar ali. Estaria ali na forma de um registro”, quanto perguntei a ele como foi a passagem da pixação para o espaço institucionalizado da Bienal de São Paulo (a convite) sem que se perdesse justamente a essência transgressora da ação.

Com este mesmo pensamento, levarei para o Espaço Piloto (galeria na UnB) apenas fragmentos, resquícios poéticos de todo o processo de pesquisa acadêmica e criação artística, que resultaram no conjunto de obras aqui apresentados, sem que este perca sua principal característica.



24 janeiro, 2011

Belém do Pará

Depois de ir para Curitiba, onde rolou o Workshop de Tattoo de Cadeia, rolou outra oportunidade bem interessante, e que acrescentou bastante nos meus estudos. Fui pra Belém falar da minha pesquisa (tema da minha monografia e deste blog) no Grupo de Pesquisa em Arte: DG – Guerrilhas Estéticas, que é coordenado pelo Profº Dr. Luizan Pinheiro.

Luizan é professor do mestrado do Instituto de Ciência da Arte da UFPA, e já escreve e estuda sobre pixação a mais de 10 anos. [ autor de alguns textos que tive como referência para meus estudos ] Me convidou para inaugurar os eventos de intercâmbio cultural do grupo de pesquisa em 2011, através de Priscila Porto, minha prima, orientanda dele na turma do mestrado, e cujo trabalho também fala da cidade e seus fluxos.

A proposta de abrir um debate sobre PESQUISA EM ARTE e OBJETO CONTEMPORÂNEO, onde eu apresentaria meu trabalho e a metodologia q fui traçando para esses estudos, aconteceu no dia 14 de janeiro, no prédio do I.C.A, que fica na Praça da Republica.





A experiência foi bem dahora! teve a presença de alunos da graduação, do mestrado, pichadores, tatuadores, e demais interessados no assunto, e como não poderia deixar de ser, depois da palestra virou um rolê de stencil.

Junto com meus parcero MANGUE e DIME, fui espalhando o Certificado INMETRO de Prostituta Limpinha, pelas ruas de Belém, num área conhecida como “Zona do Meretrício”, justamente por ser ponto comum de prostitutas e bordeis. E com a ajuda do Paulo Cezar e Luciana Magno (mestrandos da UFPA) fiz registros da ação.








fotos: 1 e 4 Luciana Magno; 2 e 3 Taiom; 5 Paulo Cezar



Confere aí um pouco da fala de Luizan sobre a pixação:



e segue tbm um link de uma pequena reportagem que rolou sobre essa experiência na capital do Pará.




04 janeiro, 2011

WorkShop de TATUAGEM DE CADEIA - Máquina de Tatuagem Caseira

O Workshop sobre TATUAGEM DE CADEIA, que rolou lá em Curitiba foi bem dahora! Foram mais de 20 inscritos que receberam uma introdução nesse universo marginal, que começou com uma mostra dos 3 grupos que selecionei para estudar, e que já foram apresentados aqui no blog. ( CARANDIRU, MARAS, VORY )

Falamos também sobre símbolos e significados, e como que vão se formando ou se transformando através do tempo. Assim como a linguagem, que está em constante transformação e muda também conforme o contexto, os códigos de organizações criminais também se adaptam a novos interesses e situações.

Assim como um mesmo símbolo, a referência visual, pode ter diferentes leituras de acordo com o grupo que interpreta, ou com a época em que foi escrito, ou lido, um mesmo significado pode ter diferentes formas, diferentes ícones, que também variam de acordo com o tempo e o espaço. Estes aspectos tornam a “leitura” dos códigos criminais um tanto subjetiva...

Outro ponto forte do workshop foi a construção de uma máquina de tatuagem com materiais comuns. Não vou ensinar aqui como montar uma maquina detalhadamente, mas deixo com vocês as ilustrações que acompanham a apostila que foi dada no workshop. Não tem muito segredo, acho que dá pra captar o essencial.

Alguns materiais que podem ser usados na confecção de uma máquina de tatuar.

- lapiseira 0,7 ou de numeração maior.

- colher ou garfo velho.

- fita isolante.

- agulha de costura.

- fio-dental.

- tinta nankin.

- isqueiro.

- tesoura e estilete.

- carregador de celular (que não tenha mais uso).

- motor de rotação (pode ser encontrado em carrinhos de controle remoto, vídeos-cassete, toca-fitas, escova de dente elétrica, micro ventilador, maquina de barbear, etc...).






17 dezembro, 2010

WorkShop de TATUAGEM DE CADEIA


Amanhã vai rolar o 1º Encontro CURITIBA TATUAGEM, promovido pelo Blog de mesmo nome, ( http://curitibatatuagem.wordpress.com/ ) em parceria com o Fotógrafo André Raittz ( http://www.andreraittz.com ), e o local é o já famoso Barba Negra Hamburgueria ( http://twitter.com/o_barbanegra ).

Durante o Evento, fui convidado pra realizar um workshop nada convencional, sobre TATUAGEM DE CADEIA.

Vai ser um mini-curso baseado nas pesquisas para a minha monografia, (que estão neste blog ) com algumas explicações teóricas sobre o que tatuagem carcerária, como se configura, exemplos de algumas organizações criminosas que se utilizam desses códigos. Também vou falar de algumas técnicas de improviso, de como se pode gravar na pele alguma imagem, o principio básico de uma maquina caseira de tatuagem, e também vamos experimentar algumas destas técnicas na prática!!

SIM! Vai rolara tattoo p quem tiver inscrito e tiver coragem!

Preparei um pequeno resumos dos tópicos tratados, uma mini apostila, e também um certificado de conclusão de curso! (que talvez possa ser útil caso algum inscrito venha a enfrentar algum período de cárcere.)


Aos interessados, entrar em contato com encontrocwbtatuagem@andreraittz.com , ou procurar alguém da organização no dia do evento.


é issaê!



06 dezembro, 2010

Entrevista com CRIPTA

Em outubro, depois de já ter tido algumas conversas por e-mail e falado sobre o meu trabalho e este blog, encontrei com o Djan Ivson, mais conhecido como CRIPTA.

Pixador das antigas, CRIPTA hoje é responsável pelos DVDs da série 100 COMÉDIA, que traz imagens impressionantes sobre o universo da pichação paulista. Além de, juntamente com Rafael PIXOBOMB, organizar os ataques dos pichadores à 28ª Bienal de São Paulo.

Rafael PIXOBOMB, era aluno da Faculdade de Belas Artes, em São Paulo, e seu Trabalho de Conclusão de Curso, foi o ataques de pichadores à exposição de Diplomação. ARTE COMO CRIME, CRIME COMO ARTE ]

Este ano, tanto Djan quanto Rafael, foram oficialmente convidados a participar da 29ª Bienal, como o COLETIVO PIXAÇÃO SP.

CRIPTA já tinha participado de uma exposição, em Paris, na Fundação Cartier, chamada “Né Dans La Rue: GRAFFITI” – e que vocês podem saber mais visitando o link1 e o link2.

E é sobre essas inclusões marginais nos espaços institucionalizados de Arte, e sobre a pixação, que conversei com CRIPTA, confira aí alguns trechos:

TAIOM – Djan, na sua visão o que caracteriza a pichação? Se pudesse resumir, o que seria a essência da pichação?

DJAN CRIPTA – A pichação está mais baseada na estética, o diferencial dela você percebe pela estética, né? E a essência da pichação mesmo é um corre existencial de uma parte da população que vive à margem, na periferia, que acaba encontrando no movimento uma opção de lazer e de reconhecimento social. Acho que devido até à ausência do Estado na vida de muitas pessoas a pichação acabou surgindo. E acabou virando uma forma não só de corre existencial, como uma forma de expressão artística também. Porque às vezes o cara que é pichador, ele não teve opção de aprender, de estudar em uma escola de artes, aprender desenho, essas coisas, e tem aquele potencial dentro dele, que é uma coisa que ele não consegue segurar. Então eu acho que a pichação é mesmo esse grito existencial.

(...)


TAIOM - Se fosse pra você dizer a linha que diferenciaria o que é grafite e o que é pichação. Já vi pessoal falando que graffiti é mais elaborado tem cor... Até a própria definição de graffiti no Aurélio, fala que ele passa uma mensagem de protesto. Outra coisa que eu pesquisei é que o Brasil é o único lugar onde existe essa diferenciação entre pichação e grafite na forma de palavra mesmo. Geralmente no exterior, usa-se o mesmo termo pra definir pichação, graffiti, tag, e tudo mais... Aqui no Brasil tem essa visão bem diferente do que é pichação, do que é grafite mas ninguém sabe onde acaba um e termina outro... Onde é que seria?
CRIPTA – Eu acho que fica bem claro pra quem é pichador porque o movimento Pixação é um movimento tipicamente de São Paulo, paulista né? Nasceu aqui... Como o Graffiti nasceu em Nova York, entendeu? São dois movimentos distintos que tem a mesma essência, né? Nasceram praticamente da mesma forma. Um grito existencial, uma forma de expressão... libertária, que não precisava de um aval da sociedade pra poder estar se apropriando de espaços públicos e privados. Porém, o graffiti, devido à sua estética ser mais colorida, ele passa a ter uma aceitação melhor perante a sociedade, mas também perde sua essência transgressora . Que é o que acontece, hoje em dia pode se dizer...

TAIOM - Está ficando estéreo, né?
CRIPTA – É. O graffiti MESMO, essência, ele é bem pouco, ele é tímido. Se for comparada à pichação no Brasil, ele quase não existe. Ele se torna uma coisa bem pequena. Agora existiram, acabaram se criando outras formas de graffiti. O graffiti comercial, o desenho com técnicas de graffiti, o muralismo... É. Uma mistura de movimentos né? Do muralismo com o graffiti e acabou surgindo uma coisa mais... eu não diria artística, mais técnica e menos transgressora. Mais domesticada inclusive né? Porque não é só o lance da transgressão que se perde, é o lance da liberdade...

(...)


TAIOM - E a relação da pichação com o espaço urbano, como tipo de ocupação de certas brechas que o sistema deixa? (...) A população que é colocada às margens, pela periferia, mas acaba voltando por que tem muito espaço vazio nesse espaço urbano. Qual a relação da pichação com esse espaço?
CRIPTA – É, então, praticamente tudo é tomado pela pichação. Tem o lance de atacar os locais mais deteriorados, pelo apego que o pichador tem com a sua assinatura, de querer ver aquilo permanecer por mais tempo, mais também tem o lance instantâneo né? Daquele impacto de pegar um prédio que, porra! Super escandaloso a fachada dele, que você sabe que vai apagar no outro dia, mas você vai fazer e aquilo vai entrar pra história como algo que foi conquistado. Então tem esse da demarcação e da conquista. Isso é muito presente na pichação como na sociedade também, só que de uma forma simbólica, né? São os excluídos buscando alguma forma de reconhecimento, de demarcação. Por que a gente não tem nada na cidade, a gente mal tem casa. Muitos moram aí em locais invadidos ou pagam de aluguel com muita dificuldade, e de repente você é dono de um prédio. Aquele prédio vira seu, porque você conquistou ele, sabe? Tem muito disso, é muito legal essa inversão de valores que existe.

(...)

TAIOM – Falando em arte, como que foi essa passagem pro espaço institucional, só que dessa vez a convite?

CRIPTA – Desde quando a gente começou toda essa transição, com o sacrifício do TCC do Rafael, nas Belas Artes, nossa busca é existencial também, até porque o movimento era simplesmente ignorado. Que nem eu disse, não que a gente precise definitivamente do aval desses caras pra ser arte. Pichação ela já é arte por si só. Mas se realmente, as pessoas que estão à frente das instituições de arte no Brasil prezam realmente pela arte, era mais do que direito a pichação ter tido já esse reconhecimento. Que já é um movimento que existe há trinta anos e ele se apropria de tudo na cidade né?

TAIOM – Ela tá bem na cara de todo o pessoal que vive na cidade, mas finge não ver...
CRIPTA – Principalmente o circuito das artes, que sempre apontava para um caminho que pichação é uma doença , e que se o cara se transformasse num grafiteiro ele seria curado. Então pichação é uma doença e o graffiti a cura, entendeu? Então é muitas pessoas que estavam à frente da arte, e estão até hoje, apontavam pra esse caminho, ou acham que esse é o caminho. Acham que pichação é algo que é transitório, que o cara por aquilo ali ele vai superar, e não. Tem cara que é pichador desde os anos 80 e tá pichando até hoje.

TAIOM – Não por falta de conhecimento estético ou de arte...
CRIPTA – Não, não. Porque o talento dele tá ali, é outra forma de talento, entendeu? Cada um tem um potencial. Um faz escultura, o outro faz gravura, e tem o cara que pixa.


TAIOM – E a transição para o caso dessa bienal agora, através dos registros...
CRIPTA – É. Voltando ao foco do assunto... Como as instituições de arte acabaram... O Ministério da Cultura, que é o principal né? Quem dita o rumo da arte no Brasil é o Ministério da Cultura, que financia todos os projetos... A pichação ela não precisa do Ministério da Cultura pra sobreviver, e isso já é muito claro, certo? Então é, de que forma a gente iria fazer isso, sem ferir a nossa essência? De forma documental, de uma forma que a rua estaria ali, mas sem estar ali. Estaria ali na forma de um registro.

TAIOM - Fragmento...
CRIPTA – É. Porque não tem como a gente levar. Nosso ateliê é a rua, nossa tela é a rua. A gente não precisa de uma tela de pano pra tá fazendo o que agente faz, entendeu? Então como representar algo tão grande se dessem uma parede em branco pra nós? Seria pouco. É só mais uma representação estética. Por mais que seja interessante também o reconhecimento estético, pelo que o movimento representa é pouco. Então foi dessa forma que a gente falou... Que a gente tá sempre convicto que é a melhor forma de representar o movimento. Porque em Paris foi mais interessante ter esse reconhecimento estético, essa representação estética porque realmente não se vê pichação na Europa, do tipo paulistano. Porque até o tag, ele é a evolução do graffiti, tag e graffiti é tudo a mesma coisa lá. Se você acompanhar a historia de Nova York, você vai ver que o graffiti evoluiu dos tag, que começaram a ser contornados elaborados e tal. Mas a pichação aqui, a única evolução dela é de apropriação.

TAIOM – Procurar lugares maiores, mais difíceis?
CRIPTA – É, isso. Porque cada pichador tem sua estética. Então a riqueza de estética é muito grande.

TAIOM – Variada...
CRIPTA – Variada. Infinita, pode-se dizer. Então é muito legal que tem esse lance da identidade da pessoa, cada pichador ele vai ter seu estilo, por mais que ele até tente copiar alguém. Ele vai tentar mas vai ter um traço genético dele ali, sabe? Isso é interessante.

(...)



TAIOM – E questão de estética, como é o estudo técnico de um pichador? Como é a formação dele, a tipografia? Como é que vêm esses desenhos? Tem a questão da troca de folhinha? Como é mais ou menos?

CRIPTA – Eu acho q é meio que uma influência, né? Ele acaba sendo influenciado por pixos que ele vê na infância, no correr de sua formação de rua. E ele acaba criando um estilo automaticamente único também, o movimento pede isso. E automaticamente alguém que tenta copiar outro acaba não copiando porque acaba criando um estilo parecido, que acaba sendo único também. Então tem muito desse lance da identidade mesmo. O pixo ele cria a identidade do cara. Ele acaba se tornando.





NOTA: para visitantes de primeira viagem, aconselho dar uma olhada na APRESENTAÇÃO e se pá, na INTRODUÇÃO também.