O presente trabalho traz reflexões iniciais da pesquisa em andamento para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso teórico-prático, intitulado Tatuagem Urbana, Pixação Humana. A visualidade ligada ao corpo humano/urbano é a base da pesquisa, que entre inúmeros desdobramentos e possibilidades, tem como foco as inscrições marginais e subversivas, presentes no indivíduo/coletivo.
Setores e grupos que são histórica e culturalmente descriminados, e muitas vezes ignorados, agora aparecem como importantes fontes de estudos estéticos. Sem querer julgar, classificar ou qualificar eticamente tais grupos, o trabalho busca rever e estudar suas características estéticas e reconfigurar suas visualidades na produção artística contemporânea.
O projeto começou no segundo semestre de 2008, foi concebido em parceria com Helder Spaniol, e tinha como objetivo estruturar conceitualmente a produção artística dos autores, e no seu desenvolvimento, mostrava os estudos, pesquisas e referências nas quais foram embasadas a produção de cada um. Intitulado Reorganização dentro de uma (Sub)versão , o trabalho iniciava com uma explicação para o termo “(sub)versão”, e dizia que separando o prefixo trazia uma nova leitura “de algo que não só subverte, mas cria uma nova versão ‘abaixo’ da já estabelecida” e continuava, “mas abaixo, não por desmerecimento ou menor importância, mas por se tratar de meios pecaminosos e criminosos, que são naturalmente marginalizados pela sociedade.” (SPANIOL, 2008).
Enquanto Spaniol caminhava seu trabalho sob um contexto religioso, tendo o pecado como elemento de interesse e questionamento, a minha inspiração surgia na esfera do crime, entre contravenções, máfias e cadeias. A visualidade, a iconografia e a tipografia relacionadas a este setores marginais da sociedade foram pesquisados e estudados, e desde então fazem parte do referencial imagético e conceitual que utilizo em meus trabalhos artísticos.
Continuando a pesquisa poética, aprofundando suas relações e as possibilidades de desdobramentos, direcionei a produção artística para o campo da gravura, onde pude estudar novas faces do trabalho, tanto pelas aproximações teóricas entre as técnicas pesquisadas quanto pela harmonia entre suas visualidades, além de um referencial histórico evidente, marcado pelo caráter de registro.
Foi então produzida uma série composta de xilogravuras e gravuras em metal, que trouxeram ao espectador signos e significados deste imagético marginal, abrindo espaço para possíveis diálogos e reorganizações entre as marcas subversivas e o corpo que as carrega.
Continuando com estes estudos, minha proposta de trabalho agora é uma Composição Urbana, uma interação com a cidade e seus habitantes, que pretende tornar visível no corpo coletivo, rastros da sua vida, da sua história, dos acontecimentos marginais que permeiam a sociedade atual, e que são quase sempre esquecidos ou ignorados, por transgredirem as regras de conduta da sociedade civilizada, trazendo aos olhos fragmentos e indícios da ocupação dos espaços urbanos por grupos marginalizados.
Ocupações não autorizadas, não planejadas, que transgridem o sistema de ordem social e que resignificam a própria cidade, feitas por prostitutas, pichadores, viciados, traficantes e ladrões que preenchem as lacunas urbanas e instalam no espaço/tempo suas próprias regras e criam na cidade um novo contexto. Tais acontecimentos cotidianos ficarão registrados na epiderme urbana através de tatuagens, marcas profanas no corpo social, que tornará mais intima a relação entre os ocupadores e o espaço ocupado.